quinta-feira, março 01, 2007

"Nós"...ou a vã glória de mandar!

Tenho andado arredada destas "lides blogais" pela simples razão de que me ausentei de casa. Eis-me de volta ao "lar doce lar" e pronta a recuperar a conversa !:)
Fala-se de tertúlias, fala-se de tempos do PREC, já longínquos na memória colectiva e ausentes nos actos da actualidade, fala-se da infância e da juventude... Perdeu-se muito da luta, do desafio, do contra-poder, das palavras murmuradas em surdina ou da vinda para a rua com bandeiras hasteadas, mais não fossem as da nossa convicção.
E receio termos regressado à ditadura, esta mais perigosa porque disfarçada com o nome de socialismo e democracia. Antes a luta nua e crua a esta "social-democracia-fascista", sem espinha nem osso (algo hibrído, pois) que nos vem convencendo há 30 anos de que o povo é quem mais ordena! Afinal é somente "quem mais ordenha", qual rebanho de carneiros que, sem ânimo e cansado de esperanças e promessas frustradas e incumpridas, se remete para o mutismo, para o ostracismo, para o amorfismo.

Não sei se se vive inocentemente feliz, se (in)conscientemente infeliz...sei, apenas, que as forças para lutar soçobraram perante gente com poder que "pretendeu ir lá para fora...cá dentro"!
Na verdade nunca se ausentaram, nem encetaram viagens rumo à Europa, à civilização.
E conseguiram que o "cá dentro" se transformasse no Portugalito que temos, sem remissão.
Se é verdade que se o analbafetismo baixou, também não me restam dúvidas de que a iliteracia subiu escabrosamente.
Isto é manifesto nas escolas. Em tempos, havia os bons alunos e os menos capazes. É algo a que não se pode fugir. O problema é que transformaram os bons em menos capazes e os menos capazes em incapazes. Donde resulta que a fasquia baixou retumbantemente e o nível diminuiu manifesta e constatadamente.
Mas, enfim, que dizer quando o sistema obriga pessoas que querem ser cabeleireiras ou trolhas ou carpinteiros, ou qualquer coisa congénere (com todo o incontornável respeito que estas pessoas, tanto como estas profissões, me merecem) a tirar um "curso superior" se o que elas pretendem é entrar o mais rapidamente possível no mercado de trabalho, ao invés de pulularem por escolas onde nada do que desejam lhes é ensinado?
Dantes o "Dr." era desejável. Agora é obrigatório! Seja para colocar rolos, secar o cabelo, partir pedra, coser solas ou serrar madeira! Já não temos Srs Antónios e Sras Cecílias...apenas Drs Antónios e Drªs Cecílias, sejam lentes de uma faculdade ou auxiliares de acção doméstica (de novo com todo o respeito, ainda que esta renovação da semântica seja significativamente ridícula, creio).
Donde se conclui que só mudam os nomes, a droga é a mesma.
Enfim, pertencemos gloriosamente a um país de doutores, sendo irrelevante se sabem , ou não, sequer falar ou escrever a língua materna. Ser doutor já não pertence ao domínio de certas habilitações académicas que levavam as pessoas a gastar 20 anos da sua vida em estudos consecutivos.
Ser doutor, hoje em dia, é sobretudo "um estado de alma"!:) Assim uma coisa tipo genética, com que se nasce. Só falta que na cédula de nascimento a conservadora civil (ainda se chama assim?!...ou será "auxiliar de acção civil e conservadora"?!!!Confesso que já não sei! Aliás, já nada sei! Admito que já nem F. Pessoa posso citar: "Merda, sou lúcida!" Não sou - ou não estou - de facto!:)) registe: no dia "tal", às "tantas horas", no lugar "tal", com "tal peso", nasceu o Sr. Dr. Rúben Joel!Não me admiraria, confesso.E depois, lá temos nós, o tempo todo, uma poluição sonoro-cultural de arrepiar os mais condescendentes: "eles" são os "houveram", os "quaisqueres", os "ouvistes" (na 2ª pessoa do singular, claro!), as pessoas que andam muito "imprimidas" porque não estão "afectivas" no trabalho ou têm alguém da famíla "toxico-independente", o pessoal a "controlar" as "retundas", as damas a vestiram "blusias" que "conduzem" muito bem com as saias e que não sendo de marca "imitem" na perfeição. E agradecem efusivamente: estou-lhe muito "grátis" e que o "Sinhor le deia boas continuações" (seja lá o que isto for) ...
Adiante, não vale a pena chover no molhado porque é uma boa forma de não secar!:).
Não se pode viver do passado. Mas que tenho saudades da velha casa cheia, das brincadeiras até hoje inacabadas na minha alma, de sentir por perto a voz e o colo dos pais, das velhas tertúlias, das conversas no café com o grupo de amigos (ainda havia tempo, espaço e disposição para isso), da luta convincente pelos ideiais de liberdade, do desafio dos segredos murmurados...lá isso, tenho! Até de ir para a Ribeira ler o Jornal de Letras, com uns óculos redondinhos de hastes finas!:)
Mas isso foi em tempos idos, do qual já nos despimos, ainda que tenham ficados indelevelmente colados à pele.
O melhor é untá-la diariamente com um bom creme...não vá "fugir-se-nos"aquilo que fez de nós o que somos!
Resta-me advertir-vos: TOMEM CUIDADO! Ou o pessoal se precavém, ou com semelhante invasão de chineses (creio que o nosso Portugalito já é uma sucursal da China!), ainda ficamos todos de olhos em bico e de pés em leque, a comer arroz com pauzinhos!

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