terça-feira, março 06, 2007

Quem não se sente, não é filho de boa gente! E eu gosto de me...sentar!:)


Mudam-se os tempos, mudam-se os ministros, mudam-se as vontades, todo o sistema é composto de mudança, tomando sempre novas “habilidades”! Muda-se o Ser e também a confiança!

Na verdade, como promover a confiança, se em cada promessa há uma vontade incumprida?

Como podem os professores confiar em quem lhes muda o destino, insuspeitadamente, de um momento para o outro? Mudam-lhes o passado, mudam-lhes o presente, mudam-lhes o futuro, com o qual nunca podem contar. Nada é uma certeza, o que hoje é afirmado, amanhã totalmente contrariado. E, sim, falamos de reforma, de aulas de subsituição, de escalões congelados, de congelamento da progressão na carreira, de, de, de...

Como podem os alunos confiar, se eles próprios deixam, a cada momento, de saber o que os espera? O que lhes dizer, se a massificação do ensino os obriga a gostos, interesses e tendências iguais para todos? Haverá alguma forma mais crassa de desigualdade do que promover algo perfeitamente igual para toda a gente? Ou será que não somos todos diferentes? Iguais em direitos e em deveres, concerteza! Mas, tão somente!

A consequência imediata e previsível é uma escola onde os alunos pululam, a maioria perfeitamente desinteressada das matérias curriculares que têm que estudar, analisar, memorizar... tão longe dos seus interesses e vivências como vai a distância da Terra à Lua.

E falam-se e discutem-se e criticam-se os baixos níveis de aprendizagem e de sucesso escolares!

Há entre o ensinar e o aprender uma razão dialéctica. Quem aprende a ensinar, ajuda a ensinar a aprender. Quem ensina a aprender, ajuda a aprender a ensinar. E para isto aconteça, é fundamental que se ame a “ensinagem”e a aprendizagem! E este “amor” advirá, certamente, se ambos tiverem, a vários níveis, condições mais promissoras.

Parece dado como certo que, para aprender, é necessário gostar do que se aprende, de se sentir que o que se aprende é útil. Parece dado como certo que é preciso aprender a aprender (aquilo que se chama de metacognição). Parece dado como certo, como um dia afirmou Goethe, que “em toda a parte só se aprende com quem se ama”. Parece dado como certo que é preciso aprender a ensinar! Parece dado como certo que é preciso ensinar a aprender! Parece dado como certo que professores e alunos têm, disto, inteira consciência.

Como explicar, então, os problemas acrescidos de aprendizagem e de “ensinagem”?

Será que os professores deixaram, de um dia para o outro, de saber ensinar? Será que os alunos deixaram, de um dia para o outro, de saber aprender? Seria estranho que assim fosse, que uma súbita inoperância colectiva tivesse vitimado todos os intervenientes do processo ensino-aprendizagem, como uma doença vírica que se tivesse propagado e atingido todos! Um mal raro: “SII” (Síndrome de Ineficácia Intelectual), eis a sigla!
Absolutamente contagiosa, potencialmente perigosa e sem vacina conhecida.
A ser assim, poderíamos, e com propriedade, falar de uma pandemia, com consequências desastrosas.

Talvez seja mais proveitoso procurarmos as causas na super-estrutura. Na tal que gosta de oferecer tantas mudanças...

E já agora, por que não mudar, oferecendo aos alunos um ensino diversificado, com saídas profissionais em conformidade? Por que não voltar às escolas comerciais e industriais em que os alunos se profissionalizavam e conseguiam realizar-se profissionalmente, com colocações no mercado de trabalho, em harmonia com os seus interesses? Não haveria, certamente, tantos alunos totalmente desmotivados!

E já agora, por que não mudar, oferecendo aos professores mais estabilidade, melhores condições de trabalho, colocações atempadas e o justo salário sem congelamentos impostos? Não haveria, certamente, tantos professores totalmente desmotivados!

E para que os professores possam ensinar necessitam de se sentir psicologicamente sãos, emocionalmente equilibrados, fisicamente em forma. Tarefa difícil para quem vê a linha do horizonte cada vez mais indefinida. E para que os alunos possam aprender necessitam de se sentir vivamente interessados pelas matérias, objectivamente empenhados em algo que sentem como útil, manifestamente felizes porque o futuro lhe será mais promissor. Tarefa difícil para quem vê a linha do horizonte cada vez mais indefinida.

Mudam-se os tempos, mudam-se os ministros, mudam-se as vontades, todo o sistema é composto de mudança, tomando sempre novas “habilidades”! É entendível!

Mas não mudem a confiança, para que professores e alunos possam continuar a SER!

quinta-feira, março 01, 2007

"Nós"...ou a vã glória de mandar!

Tenho andado arredada destas "lides blogais" pela simples razão de que me ausentei de casa. Eis-me de volta ao "lar doce lar" e pronta a recuperar a conversa !:)
Fala-se de tertúlias, fala-se de tempos do PREC, já longínquos na memória colectiva e ausentes nos actos da actualidade, fala-se da infância e da juventude... Perdeu-se muito da luta, do desafio, do contra-poder, das palavras murmuradas em surdina ou da vinda para a rua com bandeiras hasteadas, mais não fossem as da nossa convicção.
E receio termos regressado à ditadura, esta mais perigosa porque disfarçada com o nome de socialismo e democracia. Antes a luta nua e crua a esta "social-democracia-fascista", sem espinha nem osso (algo hibrído, pois) que nos vem convencendo há 30 anos de que o povo é quem mais ordena! Afinal é somente "quem mais ordenha", qual rebanho de carneiros que, sem ânimo e cansado de esperanças e promessas frustradas e incumpridas, se remete para o mutismo, para o ostracismo, para o amorfismo.

Não sei se se vive inocentemente feliz, se (in)conscientemente infeliz...sei, apenas, que as forças para lutar soçobraram perante gente com poder que "pretendeu ir lá para fora...cá dentro"!
Na verdade nunca se ausentaram, nem encetaram viagens rumo à Europa, à civilização.
E conseguiram que o "cá dentro" se transformasse no Portugalito que temos, sem remissão.
Se é verdade que se o analbafetismo baixou, também não me restam dúvidas de que a iliteracia subiu escabrosamente.
Isto é manifesto nas escolas. Em tempos, havia os bons alunos e os menos capazes. É algo a que não se pode fugir. O problema é que transformaram os bons em menos capazes e os menos capazes em incapazes. Donde resulta que a fasquia baixou retumbantemente e o nível diminuiu manifesta e constatadamente.
Mas, enfim, que dizer quando o sistema obriga pessoas que querem ser cabeleireiras ou trolhas ou carpinteiros, ou qualquer coisa congénere (com todo o incontornável respeito que estas pessoas, tanto como estas profissões, me merecem) a tirar um "curso superior" se o que elas pretendem é entrar o mais rapidamente possível no mercado de trabalho, ao invés de pulularem por escolas onde nada do que desejam lhes é ensinado?
Dantes o "Dr." era desejável. Agora é obrigatório! Seja para colocar rolos, secar o cabelo, partir pedra, coser solas ou serrar madeira! Já não temos Srs Antónios e Sras Cecílias...apenas Drs Antónios e Drªs Cecílias, sejam lentes de uma faculdade ou auxiliares de acção doméstica (de novo com todo o respeito, ainda que esta renovação da semântica seja significativamente ridícula, creio).
Donde se conclui que só mudam os nomes, a droga é a mesma.
Enfim, pertencemos gloriosamente a um país de doutores, sendo irrelevante se sabem , ou não, sequer falar ou escrever a língua materna. Ser doutor já não pertence ao domínio de certas habilitações académicas que levavam as pessoas a gastar 20 anos da sua vida em estudos consecutivos.
Ser doutor, hoje em dia, é sobretudo "um estado de alma"!:) Assim uma coisa tipo genética, com que se nasce. Só falta que na cédula de nascimento a conservadora civil (ainda se chama assim?!...ou será "auxiliar de acção civil e conservadora"?!!!Confesso que já não sei! Aliás, já nada sei! Admito que já nem F. Pessoa posso citar: "Merda, sou lúcida!" Não sou - ou não estou - de facto!:)) registe: no dia "tal", às "tantas horas", no lugar "tal", com "tal peso", nasceu o Sr. Dr. Rúben Joel!Não me admiraria, confesso.E depois, lá temos nós, o tempo todo, uma poluição sonoro-cultural de arrepiar os mais condescendentes: "eles" são os "houveram", os "quaisqueres", os "ouvistes" (na 2ª pessoa do singular, claro!), as pessoas que andam muito "imprimidas" porque não estão "afectivas" no trabalho ou têm alguém da famíla "toxico-independente", o pessoal a "controlar" as "retundas", as damas a vestiram "blusias" que "conduzem" muito bem com as saias e que não sendo de marca "imitem" na perfeição. E agradecem efusivamente: estou-lhe muito "grátis" e que o "Sinhor le deia boas continuações" (seja lá o que isto for) ...
Adiante, não vale a pena chover no molhado porque é uma boa forma de não secar!:).
Não se pode viver do passado. Mas que tenho saudades da velha casa cheia, das brincadeiras até hoje inacabadas na minha alma, de sentir por perto a voz e o colo dos pais, das velhas tertúlias, das conversas no café com o grupo de amigos (ainda havia tempo, espaço e disposição para isso), da luta convincente pelos ideiais de liberdade, do desafio dos segredos murmurados...lá isso, tenho! Até de ir para a Ribeira ler o Jornal de Letras, com uns óculos redondinhos de hastes finas!:)
Mas isso foi em tempos idos, do qual já nos despimos, ainda que tenham ficados indelevelmente colados à pele.
O melhor é untá-la diariamente com um bom creme...não vá "fugir-se-nos"aquilo que fez de nós o que somos!
Resta-me advertir-vos: TOMEM CUIDADO! Ou o pessoal se precavém, ou com semelhante invasão de chineses (creio que o nosso Portugalito já é uma sucursal da China!), ainda ficamos todos de olhos em bico e de pés em leque, a comer arroz com pauzinhos!