Mudam-se os tempos, mudam-se os ministros, mudam-se as vontades, todo o sistema é composto de mudança, tomando sempre novas “habilidades”! Muda-se o Ser e também a confiança!
Na verdade, como promover a confiança, se em cada promessa há uma vontade incumprida?
Como podem os professores confiar em quem lhes muda o destino, insuspeitadamente, de um momento para o outro? Mudam-lhes o passado, mudam-lhes o presente, mudam-lhes o futuro, com o qual nunca podem contar. Nada é uma certeza, o que hoje é afirmado, amanhã totalmente contrariado. E, sim, falamos de reforma, de aulas de subsituição, de escalões congelados, de congelamento da progressão na carreira, de, de, de...
Como podem os alunos confiar, se eles próprios deixam, a cada momento, de saber o que os espera? O que lhes dizer, se a massificação do ensino os obriga a gostos, interesses e tendências iguais para todos? Haverá alguma forma mais crassa de desigualdade do que promover algo perfeitamente igual para toda a gente? Ou será que não somos todos diferentes? Iguais em direitos e em deveres, concerteza! Mas, tão somente!
A consequência imediata e previsível é uma escola onde os alunos pululam, a maioria perfeitamente desinteressada das matérias curriculares que têm que estudar, analisar, memorizar... tão longe dos seus interesses e vivências como vai a distância da Terra à Lua.
E falam-se e discutem-se e criticam-se os baixos níveis de aprendizagem e de sucesso escolares!
Há entre o ensinar e o aprender uma razão dialéctica. Quem aprende a ensinar, ajuda a ensinar a aprender. Quem ensina a aprender, ajuda a aprender a ensinar. E para isto aconteça, é fundamental que se ame a “ensinagem”e a aprendizagem! E este “amor” advirá, certamente, se ambos tiverem, a vários níveis, condições mais promissoras.
Parece dado como certo que, para aprender, é necessário gostar do que se aprende, de se sentir que o que se aprende é útil. Parece dado como certo que é preciso aprender a aprender (aquilo que se chama de metacognição). Parece dado como certo, como um dia afirmou Goethe, que “em toda a parte só se aprende com quem se ama”. Parece dado como certo que é preciso aprender a ensinar! Parece dado como certo que é preciso ensinar a aprender! Parece dado como certo que professores e alunos têm, disto, inteira consciência.
Como explicar, então, os problemas acrescidos de aprendizagem e de “ensinagem”?
Será que os professores deixaram, de um dia para o outro, de saber ensinar? Será que os alunos deixaram, de um dia para o outro, de saber aprender? Seria estranho que assim fosse, que uma súbita inoperância colectiva tivesse vitimado todos os intervenientes do processo ensino-aprendizagem, como uma doença vírica que se tivesse propagado e atingido todos! Um mal raro: “SII” (Síndrome de Ineficácia Intelectual), eis a sigla!
Absolutamente contagiosa, potencialmente perigosa e sem vacina conhecida.
A ser assim, poderíamos, e com propriedade, falar de uma pandemia, com consequências desastrosas.
Talvez seja mais proveitoso procurarmos as causas na super-estrutura. Na tal que gosta de oferecer tantas mudanças...
E já agora, por que não mudar, oferecendo aos alunos um ensino diversificado, com saídas profissionais em conformidade? Por que não voltar às escolas comerciais e industriais em que os alunos se profissionalizavam e conseguiam realizar-se profissionalmente, com colocações no mercado de trabalho, em harmonia com os seus interesses? Não haveria, certamente, tantos alunos totalmente desmotivados!
E já agora, por que não mudar, oferecendo aos professores mais estabilidade, melhores condições de trabalho, colocações atempadas e o justo salário sem congelamentos impostos? Não haveria, certamente, tantos professores totalmente desmotivados!
E para que os professores possam ensinar necessitam de se sentir psicologicamente sãos, emocionalmente equilibrados, fisicamente em forma. Tarefa difícil para quem vê a linha do horizonte cada vez mais indefinida. E para que os alunos possam aprender necessitam de se sentir vivamente interessados pelas matérias, objectivamente empenhados em algo que sentem como útil, manifestamente felizes porque o futuro lhe será mais promissor. Tarefa difícil para quem vê a linha do horizonte cada vez mais indefinida.
Mudam-se os tempos, mudam-se os ministros, mudam-se as vontades, todo o sistema é composto de mudança, tomando sempre novas “habilidades”! É entendível!
Mas não mudem a confiança, para que professores e alunos possam continuar a SER!